
Educador, ao organizar o seu planejamento para 2026, qual é a primeira prioridade que surge em meio às planilhas, metas e cronogramas? Se a resposta for o cumprimento de conteúdos, você não está sozinho. A pressão da “pedagogia da performance” nos empurra para uma lógica de resultados que, muitas vezes, esvazia o sentido mais profundo do nosso trabalho: a formação de seres humanos. A aprendizagem genuína, no entanto, não acontece em um vácuo de índices; ela floresce em um ambiente de segurança, confiança e conexão.
Antes de abrir os livros didáticos, é preciso abrir um espaço para o encontro. Para se contrapor ao modelo de “educação bancária”, que apenas “deposita” conteúdos em alunos passivos, propomos uma Pedagogia do Encontro, que prioriza as relações humanas como o alicerce de todo o processo de aprendizagem. Para iniciar essa mudança, existe uma prática simples e poderosa: o check-in emocional. É um convite para começar cada dia letivo não com uma chamada de nomes, mas com um chamado à presença, ao cuidado e ao vínculo.
Priorizar o vínculo não é uma escolha subjetiva, mas uma estratégia fundamentada em evidências da neurociência, da psicologia e de pesquisas educacionais. Ignorar a dimensão socioemocional é ignorar como a aprendizagem de fato acontece.
Do ponto de vista da neurociência e da psicologia, emoção e cognição são processos indissociáveis. A pesquisa do neurocientista António Damásio demonstra que as emoções influenciam diretamente funções cognitivas essenciais como atenção, memória e tomada de decisão. Quando um aluno se sente seguro, acolhido e conectado, seu cérebro está mais preparado para aprender. Como afirma Timothy Shriver, Cofundador e Presidente do Conselho da CASEL: “A verdade é que a emoção impulsiona a atenção e a atenção impulsiona a aprendizagem”. Sob a perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, a aprendizagem se pauta na “unidade cognitivo-afetiva”, reforçando que não há como separar o pensar do sentir no processo educativo.
Um ambiente escolar positivo é um catalisador para a equidade e o desempenho acadêmico. Uma pesquisa do Instituto Unibanco conclui que um clima escolar positivo é capaz de reduzir as desigualdades de desempenho entre estudantes, mesmo que venham de ambientes socioeconômicos distintos. Uma escola com bom clima é definida como um lugar onde alunos, professores, pais e direção “sentem-se acolhidos, motivados e têm objetivos comuns”. Mas como construir esse clima na prática? A resposta está no desenvolvimento intencional de habilidades socioemocionais. Uma ampla análise da CASEL (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning) demonstra que estudantes que participam de programas de aprendizagem socioemocional (SEL) têm um desempenho acadêmico 11 pontos percentuais acima da média de seus pares, evidenciando que o investimento no socioemocional é o caminho mais eficaz para se alcançar um ambiente de aprendizagem potente e justo.
O educador Paulo Freire criticou duramente o modelo de ensino focado apenas em “depositar” conteúdos nos alunos, um método que ele chamou de “educação bancária”. Essa abordagem desumaniza a relação educativa, tratando o aluno como um recipiente passivo e ignorando sua subjetividade, seus sentimentos e suas experiências. Para transformar essa realidade, é preciso reconhecer que a conexão precede o conteúdo. Nas palavras de Jenifer Kuras, Diretora de Desenvolvimento Profissional do Distrito Escolar do Condado de Palm Beach: “Um aluno não vai se importar com o quanto você sabe até que ele saiba o quanto você se importa”. É com essa premissa que ferramentas práticas de acolhimento se tornam não apenas desejáveis, mas essenciais.
De forma simples, o check-in emocional é uma prática de acolhimento diário, curta e estruturada, que cria um espaço seguro para os alunos expressarem seus sentimentos e pensamentos. Essa ferramenta ganha vida de diversas formas, adaptando-se à realidade de cada turma. A especialista Paula Roosch, por exemplo, descreve um momento em que as crianças podem escrever seu nome em um post-it e “definir seu estado emocional”, permitindo que os professores identifiquem quem precisa de apoio.
O guia “Estratégias para acolhimento e fortalecimento de laços afetivos” amplia essa visão, descrevendo o check-in como uma atividade de boas-vindas onde cada aluno pode compartilhar como está se sentindo “usando palavras, expressões faciais ou cores”. Essa versatilidade faz do check-in um elemento fundamental de metodologias mais amplas, como os “círculos de construção de paz”, nos quais ele funciona como a etapa de apresentações que inicia a conexão do grupo e estabelece um clima de confiança.
Implementar o check-in emocional não requer recursos complexos, apenas intencionalidade e alguns minutos no início da aula. A seguir, um guia passo a passo baseado nos princípios das práticas restaurativas.
Para manter a prática dinâmica, é possível adaptá-la com diferentes recursos:
Termômetro das Emoções: Crie um painel em formato de “termômetro” com diferentes expressões faciais (medo, alegria, tristeza). Ao chegar, cada aluno pode colocar um marcador no “termômetro” para indicar como se sente e, se desejar, explicar o porquê.
Os impactos positivos do check-in emocional não são meramente comportamentais; eles são a manifestação prática dos princípios neurocientíficos e psicológicos discutidos anteriormente, reverberando de formas concretas tanto para alunos quanto para educadores.
O check-in emocional não é “mais uma tarefa” em uma rotina já sobrecarregada. É uma mudança fundamental de paradigma: um investimento que torna todo o processo de ensino-aprendizagem mais humano, significativo e eficaz. Ao dedicar os primeiros minutos do dia para olhar nos olhos dos seus alunos e perguntar como eles realmente estão, você não está perdendo tempo de conteúdo; você está construindo a base sobre a qual todo o conhecimento será erguido.
Que em 2026, seu planejamento comece pelo vínculo. Esse investimento na conexão é o primeiro e mais poderoso passo para construir uma verdadeira Pedagogia do Encontro, na qual, como nos ensinou Paulo Freire, a educação se realiza como um ato de encontro, e não há encontro verdadeiro sem afeto.
“Ensinar exige querer bem aos educandos”. – Paulo Freire
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