
Após a proibição do uso de celulares nas escolas, pesquisas indicam que mais de 80% dos alunos prestam mais atenção às aulas, 77% dos gestores e 65% dos professores relatam diminuição do bullying virtual, e alguns alunos mencionam melhora no desempenho. Mas será que o grave problema da distração em sala de aula foi resolvido? Muitos educadores relatam que a distração continua elevada, mesmo após a proibição dos celulares nas escolas.
Especialistas em psicologia educacional defendem que a verdadeira solução não reside na remoção do estímulo, mas no fortalecimento das funções executivas do aluno, como o autocontrole. Este texto busca oferecer aos educadores estratégias pedagógicas e psicológicas para cultivar o foco sustentado — uma competência essencial para o sucesso no século XXI.
O primeiro passo para ajudar os alunos a recuperar o controle sobre sua própria atenção é construir uma base sólida de consciência, tanto sobre o design da tecnologia quanto sobre seus próprios padrões de comportamento.
É fundamental que os alunos compreendam como a tecnologia é deliberadamente projetada para capturar e reter sua atenção, muitas vezes minando sua força de vontade. Ao desmistificar os mecanismos por trás de aplicativos e plataformas, devolvemos a eles o poder da escolha consciente. Alguns dos “truques de design” mais eficazes incluem:
Essa conscientização permite que os alunos reconheçam quando estão sendo influenciados a permanecer online, capacitando-os a tomar decisões mais intencionais, em casa e na sala de aula.
Uma prática pedagógica eficaz é guiar os alunos em um exercício de metacognição sobre seus próprios impulsos e hábitos tecnológicos. Atividades de reflexão podem ajudá-los a questionar não apenas o que fazem em seus dispositivos, mas, por que o fazem. Compreender os gatilhos emocionais e contextuais por trás de seus padrões de uso é um passo essencial para a autorregulação.
Com uma base de autoconsciência estabelecida, podemos introduzir habilidades práticas que os alunos podem aplicar para fortalecer a capacidade de concentração, tanto na escola quanto em suas vidas pessoais.
Uma medida simples e poderosa é utilizar as configurações dos próprios dispositivos para minimizar as interrupções. Em vez de serem vítimas da tecnologia, os alunos aprendem a configurá-la para que trabalhe a seu favor.
Além dos ajustes tecnológicos, é fundamental cultivar competências que promovam o equilíbrio e o bem-estar de forma integral.
Enquanto essas habilidades de vida e ajustes digitais constroem uma defesa robusta contra a distração, a estratégia mais proativa é redesenhar a própria experiência de aprendizagem. É aqui que entramos no campo da psicologia positiva com a Teoria do Fluxo.
Uma das abordagens mais eficazes para combater a distração é transformar a experiência de aprendizado, tornando as aulas tão engajadoras que os alunos simplesmente não sentem a necessidade de buscar estímulos externos. A Teoria do Fluxo oferece um mapa para essa transformação.
O conceito foi cunhado pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que, nas décadas de 1970 e 80, ficou fascinado ao observar artistas que se tornavam tão imersos em seu trabalho que perdiam a noção do tempo, ignorando necessidades básicas como comer e dormir. Esse estado de hiperfoco e engajamento total é o que ele chamou de “experiência ótima” – um antídoto natural para a distração.
Com base na pesquisa de Csikszentmihalyi, existem cinco condições vitais para criar um ambiente que promova o estado de fluxo. Elas funcionam como um guia prático para educadores.
Ao migrar da proibição para a capacitação, não estamos apenas gerenciando o comportamento em sala de aula; estamos ativamente modelando as competências executivas que definirão o sucesso dos nossos alunos em um mundo saturado de informações. As estratégias apresentadas, da autorregulação digital à aplicação da Teoria do Fluxo, são ferramentas para a vida. A Teoria do Fluxo, em particular, não é apenas uma técnica de engajamento, mas um antídoto poderoso para a distração crônica.
Lembre-se: estamos todos juntos nisso. Ao modelarmos nossos próprios hábitos saudáveis e liderarmos com empatia, apoiamos nossos alunos na construção de uma relação mais equilibrada e intencional com a tecnologia e, mais importante, com sua própria mente.
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