A educação transforma realidades e muda vidas. Com essa certeza, iniciamos a nossa série de artigos e entrevistas “Professor que Inspira”, destacando educadores que fazem a diferença em suas comunidades.
Para abrir essa jornada, conversamos com o Prof. Jurandi Souza Xerente que desenvolve um trabalho inovador ao preservar a cultura indígena no ensino da matemática e foi finalista da 2a edição do Prêmio Educador Transformador no ano passado.
Como tornar a Matemática mais significativa para os estudantes? Como conectar os saberes tradicionais à aprendizagem escolar? Essas foram algumas das perguntas que impulsionaram o professor Jurandi a desenvolver o projeto Etnomatemática: Kuiwdê Nitro – Tora Grande da Corrida de Tora, que integra a cultura do povo Akwe ao ensino da disciplina.
No Centro de Ensino Médio Indígena Xerente-Warã, localizado em Tocantínia/TO, cerca de 400 estudantes do povo Xerente vivem uma realidade escolar bilíngue e intercultural, onde a língua Akwe é sua língua materna e o português, a segunda. A proposta do professor Jurandi não apenas valoriza essa identidade, mas também ressignifica o ensino da Matemática, mostrando como os conceitos matemáticos estão presentes no dia a dia e nas práticas culturais da comunidade.
Um dos exemplos mais marcantes do projeto é a Corrida de Tora, uma atividade tradicional indígena que envolve força, resistência e trabalho em equipe. A partir dessa prática, os alunos exploram conceitos como medidas, peso, força e tempo, tornando o aprendizado mais concreto e próximo de sua realidade.
“A etnomatemática nos ajuda a perceber que a matemática não está só no livro didático, ela está em tudo: na forma como construímos nossas casas, na maneira como organizamos nossa rotina e até mesmo nos esportes tradicionais que praticamos”, explica o professor Jurandi.
O Prof. Jurandi também compartilhou um dos seus novos projetos: o lançamento do livro “Etnomatemática Akwē-Xerente: como se conta e como se mede”. A proposta busca suprir uma lacuna educacional ao oferecer materiais didáticos específicos para as escolas indígenas.
“O estado deveria contratar professores indígenas ou criar editais para que pudessem desenvolver materiais didáticos específicos de seu povo. Esse projeto impactaria a matriz curricular, abrindo precedentes para que outros povos indígenas construam seus próprios instrumentos didáticos reconhecidos pelo estado”, explica o professor.
Perguntamos ao Prof. Jurandi quais são os principais desafios da educação no momento e como os educadores podem fazer a diferença. Segundo ele, um dos maiores desafios é a carga horária excessiva imposta aos professores, especialmente nas escolas de ensino integral. A solução, em sua visão, passa por uma redução da jornada de trabalho e pela elaboração de um plano de carreira mais favorável para a profissão docente.
“O trabalho do professor não se restringe ao tempo em sala de aula. Estamos sempre desenvolvendo novas metodologias e buscando formas de aprimorar o ensino”, destaca Jurandi. Para ele, a educação inclusiva e de qualidade só é possível com o apoio dos gestores escolares e com metodologias inovadoras que dialoguem com a realidade dos estudantes e envolvam a comunidade em projetos sustentáveis.
Quando perguntamos o que o faz continuar inovando e criando projetos, a resposta veio com um brilho nos olhos: os alunos!
“Ver nossos estudantes valorizando a cultura, aprendendo a nossa língua Akwē e preservando nossas raízes é a maior motivação. A educação é um processo vivo, em constante evolução. Precisamos sempre buscar o melhor, trazendo a educação cada vez mais para perto da nossa realidade”, diz Jurandi.
Ao integrar a tradição indígena ao currículo escolar, o professor promove a valorização dos saberes locais e incentiva o protagonismo dos alunos, permitindo que reconheçam o valor de sua cultura dentro do ambiente escolar.
“Muitos alunos passam a enxergar a Matemática de outra forma, porque percebem que ela já faz parte da sua vida. Isso fortalece a autoestima e a conexão com a escola”, ressalta Jurandi.
Com essa primeira entrevista, damos o pontapé inicial na nossa série “Professor que Inspira”. O Prof. Jurandi é um exemplo de como a educação pode ser um instrumento poderoso para a valorização cultural e o desenvolvimento comunitário
📌 Quer conhecer mais práticas educacionais transformadoras? Acompanhe nossa série “Professor que Inspira” e descubra histórias de educadores que fazem a diferença. Vem muito mais história inspiradora por aí! E se você conhece um professor que merece destaque, conta pra gente!
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