Projeto pedagógico inspirador busca refletir sobre as contribuições afro-brasileiras e africanas para a história e cultura do Brasil, além de promover conhecimento e repertório cultural inserindo práticas que valorizam e respeitam a diversidade
Abordar conteúdos que trazem para a sala de aula a História da África e do Brasil Africano é levar a reflexão sobre a discriminação racial, estimular valores e comportamentos, levantar a bandeira de combate ao racismo que atinge em especial populações negras.
O estudo e compartilhamento das manifestações artísticas afro-brasileiras permite recontar a história dos afrodescendentes, partindo-se de outro foco, não o da escravidão e do sofrimento, ainda tão presentes em nossos currículos e livros didáticos. O contato com o universo das artes afro-brasileiras nos leva ao exercício da criatividade e para os estudantes é uma experiência interessante onde desvendam os mistérios da rica cultura afro-brasileira. Afinal, todos esses elementos se entrelaçam e nos comunicam algo sobre nosso território, nossa cultura, nossa língua, enfim, nossa história.
Pensando nisso, e buscando difundir contribuições dos africanos e afrodescendentes nas artes plásticas, música e dança no Brasil, a iniciativa “Encontro, contos e encantos da arte Afro-Brasileira”, desenvolvida pela Profa. Guadalupe da Silva Vieira, convida os alunos a conhecerem e refletirem sobre questões raciais enraizadas em nossa sociedade e trabalha valores éticos e morais ao despertar a consciência e valorização da cultura afro-brasileira, além de difundir saberes e conhecimento sobre contribuições afro-brasileiras e africanas para a história e cultura do Brasil.
Para conhecer o projeto da professora Guadalupe da Silva Vieira na íntegra, basta clicar aqui
Aplicado aos alunos do Ensino Fundamental 1 da EMEF Edgard Coelho, em São Leopoldo (RS), o projeto estimula o conhecimento e divulga a história da negritude brasileira a partir de desenhos, de música, da dança e de livros como A menina bonita do laço de fita e O cabelo de Lelê. A prática também incorpora atividades envolvendo ações teatrais, fantoches, história em quadrinhos e elaboração de bonecas de pano, onde se privilegia a ação de ver, fazer, falar e refletir em interação com a Arte.
“ Procuro dar sentido para as experiências vividas, entre a forma de pensar e de sentir, entre criar e apreciar. Busco respaldo nos projetos. Busco inspiração na Arte”, comenta a professora Guadalupe.
As turmas dos 5° anos identificaram e apreciaram a iconografia das artes do continente Africano em que realizaram em grupo apresentações em forma de cartazes, maquetes e músicas. Através da confecção do mapa da África e Brasil com recortes de várias etnias, montaram um álbum sobre animais da África, participando das brincadeiras e músicas do repertório infantil afro, trabalhando Memória, Ludicidade, Oralidade e Ancestralidade.
Entre as atividades realizadas, os alunos percorreram a História dos Tecidos Africanos , com suas tramas, cores e texturas, que indicam papéis sociais, estampam mensagens, contam histórias, transmitem ideias e valores. Algumas padronagens de tecidos africanos foram levadas para que os alunos pudessem manuseá-los, observando os detalhes descrevendo suas impressões, tecidos que vieram de alguns países da África, como: Nigéria, Senegal, Moçambique e Angola.
A partir de todos estes elementos foi possível estabelecer uma relação com a importância das bonecas Abayomi, cujo aprendizado resultou na confecção de bonecas negras como elementos de afirmação das raízes culturais brasileiras, considerando que sua confecção se caracteriza como experimentação criativa e identitária, inserida no campo de lutas produzidas pelo movimento de mulheres negras.
As diversas formas de manifestação artística do projeto estiveram presentes no trabalho educativo de outros (as) educadores (as), seja através dos Contos Africanos lidos nas aulas de Língua Portuguesa ou nas aulas de Educação Física com a Capoeira. Ou ainda, o acréscimo de músicas afro-brasileiras no repertório musical nas aulas de música como também conhecer o som dos Pau-de-chuva emprestados pela professora de Educação Infantil.
“Em cada encontro que as vivências artísticas eram realizadas, parecia que um mundo novo se descortinava e novos elementos emergiam carregados de muito significado para cada participante.”
Ao entrarmos em contato com o universo da cultura e, mais especificamente, com o mundo da arte, expressão simbólica das culturas dos universos que vivenciamos, perpassam o que tem sido transmitido de geração em geração, por todos os povos, de todos os cantos do mundo. As obras dos artistas permitiu recontar a história dos afrodescendentes partindo de outro foco, não o da escravidão e do sofrimento, ainda tão presentes em nossos currículos e livros didáticos. Evidenciaram, também, uma ressignificação da historiografia afro-brasileira, que muitas vezes não é retratada nos livros didáticos e que seja vista sem idealizações dominantes.É herança cultural e artística do negro no Brasil. Legado africano que nos leva a reconhecer nossa própria história. Indubitavelmente, uma expressão de resistência e presença negra incorporada à formação do povo brasileiro.
“As ações pedagógicas contribuíram para o processo de transformação na escola ao incorporar a Arte Afro-brasileira no cotidiano escolar. Estudantes, comunidade escolar e eu, construímos e reconstruímos, significamos e ressignificamos nosso espaço e tempo, nossas relações e nossa história.”, finaliza a professora.
Esta incrível iniciativa está disponível no Banco de Práticas do Instituto Significare e foi selecionada entre os 350 projetos mais Transformadores do Brasil pelo Prêmio Professor Transformador. Inspire-se e participe da 2ª edição do Prêmio! Acesse https://significare.org.br/premio/ e inscreva o seu projeto.
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