Humanizar a Educação

Em nova entrevista com os embaixadores do Prêmio Professor Transformador, a Profa. Juliana Santiago, de Lavras (MG), destaca a importância do olhar humanizado para aqueles que fazem a Educação acontecer

Para participar do Prêmio  Professor Transformador, acesse: https://significare.org.br/premio/

 

Aprender a partir das próprias vulnerabilidades, empoderar o professor, acreditar na Educação como ferramenta de transformação das pessoas, que por sua vez, podem transformar a realidade à sua volta. Esses são alguns dos valores apresentados pela Profa. Juliana Santiago, de Lavras (MG), nesta nova entrevista com os embaixadores do Prêmio Professor Transformador. 

As palavras da educadora, que é especialista em Química, sugerem a necessidade de se ter um olhar mais humanizado para a Educação. Acompanhe a conversa com a professora:

Certamente, muitos dos desafios que superou ao longo da sua trajetória são desafios comuns a muitos educadores e educadoras. Quais foram os maiores e como os superou?

Profa. Juliana Santiago: Os desafios com certeza são muitos e, várias vezes, nos colocam à mercê das nossas vulnerabilidades. E foi estudando sobre elas que aprendi a falar a respeito e, a partir daí, abrir espaço para trocas e estabelecimento de maior conexão com os alunos. Desmistificar que o professor é um ser que sabe tudo, que não erra. Modificando posturas com relação ao erro. Certa vez, até realizei um trabalho acerca do termo serendipidade – descobertas ao acaso. Evolução da Ciência a partir do erro, a partir de descobertas inesperadas. Foi assim que os alunos se aproximaram de uma forma mais significativa. Além da abordagem com metodologias de ensino diferenciadas, especialmente do ensino por investigação, os alunos com aversão à disciplina (Química) compreenderam a sua importância e apresentei diferentes possibilidades para a construção do conhecimento.  

Acredito que o nosso campo de trabalho envolve muitos condicionantes subjetivos e que cognição e emoção estão vinculados. Aprendo na medida que emociono. Buscar por um curso na área da Psicanálise tem me ajudado a ressignificar a minha prática, além de abrir espaços de acolhimento para mim, meus alunos e colegas professores. Ajudar um colega, ouvir de forma empática, também é importante no processo. Além da abordagem transversal e interdisciplinar que também promove com um maior engajamento dos alunos e superação de desafios recorrentes.

Também pude vivenciar a superação de desafios em projetos específicos, como a preparação de alunos de alto desempenho para as Olimpíadas de Química, no período contraturno ao de suas aulas. O êxito dos alunos nas Olimpíadas aproxima as famílias e, de certa forma, contribui na superação do desafio de estreitar os laços entre escola e família. 

Para superar desafios diversos, enfim, também é preciso estar em rede com professores de diferentes locais, conhecendo práticas e realidades distintas. Nesse sentido, também foram importantes a participação em projetos como as sequências didáticas e de apoio aos professores, promovidas na universidade local (UFLA – Universidade Federal de Lavras), e programas como o PBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) e Residência Pedagógica. 

Os desafios impostos à Educação pela pandemia não foram poucos. Muito foi feito com o apoio da tecnologia, mas o papel do professor, como você avalia e define o papel o do professor transformador neste novo contexto da Educação?

Profa. Juliana Santiago: Acredito que nós aprendemos muito! Percebemos que não seria possível transpor o presencial para o online. Nosso principal papel foi compreender que a tecnologia não tira o lugar e a importância do professor; pelo contrário, nesse processo o professor é essencial, sobretudo quando ele vai ali desenvolvendo as possibilidades para utilizar a tecnologia como uma ponte para atingir os seus objetivos educacionais, e não como finalidade em si. E claro, mantendo o foco na aprendizagem do aluno.

O professor passa a entender que, embora o aluno seja nativo digital, muitas vezes falta conhecimento e responsabilidade para o uso das tecnologias. Nesse novo contexto, é importante estudar e falar sobre educação midiática para lidar com essa “infodemia”, ou seja, a hiperabundância de informações. É preciso também conhecer o real significado do ensino híbrido, personalização, metodologias ativas. Abrir espaços para se explorar a criatividade e valorizar as habilidades interpessoais dos alunos. Discutir, compartilhar práticas com outros colegas professores! 

Ninguém sabe exatamente como lidar com a incerteza: teremos que ter experiências de como aprender e ensinar num cenário de incertezas para superar os novos desafios. Se não será como antes, como planejar o próximo? Acerto se eu entendo as necessidade da minha comunidade, mais especificamente da minha escola, da sala de aula. Ouvir o aluno. Pensar em estratégias mais diversificadas, pois os alunos aprendem de forma diferente.

Transformação talvez seja uma das palavras mais pertinentes no atual contexto do nosso país. Na sua visão, quais as transformações possíveis e desejáveis que os professores podem ajudar a promover, com base nas suas práticas?

Profa. Juliana Santiago: Acredito inicialmente na transformação das pessoas para uma consequente transformação de realidades. Como diz Paulo Freire: a Educação não muda o mundo, a Educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo. Acredito na Educação como busca de soluções que gerem transformações efetivas e que estimulem aprendizados e mudanças culturais e sociais.

É importante também que o professor se empodere e assuma a sua posição de professor como intelectual transformador, compartilhando as suas práticas e fomentando um espírito de coletividade. Nesse sentido, não poderia deixar de mencionar a importância do Prêmio Professor Transformador para a divulgação de práticas, reconhecimento e enfrentamento para a superação da solidão pedagógica. Que sua voz alcance outras vozes!

Quem é o Professor Transformador, que possibilita conectar a educação a um presente e futuro desejáveis? 

Profa. Juliana Santiago: É aquele que realiza nas condições que têm, mas que está em busca de melhores condições para o trabalho. Movido e inquieto pela curiosidade, não espera as condições ideais para executar. Influencia e inspira para uma visão de futuro ampliada, com foco no desenvolvimento sustentável e integral dos estudantes.

O Professor Transformador é também aquele que se atualiza, critica, que é flexível. Que adquiriu confiança em lidar com o agora para lidar com desafios do futuro. É ainda aquele professor cujo olhar não procura a falta, mas explora as potencialidades. Que preza por educação midiática, para lidar com nativos digitais (ou seriam inocentes digitais?). Repensa processo avaliativo. Orienta os seus alunos para a resolução criativa de problemas. E vê a Educação como um ecossistema orgânico, ao invés de um sistema mecanicista.

E a escola, como pode ser essa escola que possibilita conectar a Educação a um presente e futuro desejáveis?

Profa. Juliana Santiago: Primeiramente, a Educação não pode ser vista e restrita ao espaço físico da escola. Não podemos reduzi-la a espaços fechados e formatados. A aprendizagem é um processo contínuo, ocorre de diferentes formas, em variados espaços e tempos.

O conteúdo formal dos componentes curriculares é muito importante. Mas a escola tem que fazer sentido para o aluno, para que este assuma, de fato, uma posição ativa na construção do conhecimento. A escola deve, cada vez mais, dar espaço à criatividade, pesquisa e produção de conhecimento, com foco na solução, e não no problema. Comece pelo por quê?

Escolas que prezam pelos pilares das escolas inovadoras são aquelas que cultivam a generosidade em compartilhar, possuem boa gestão de comunicação e gestão participativa, trabalham com planejamento estratégico e estudo de evidências. São ainda aquelas que não estigmatizam o erro e usam as tecnologias de forma inteligente, com personalização das experiências e contribuições para a cultura escolar vigente.

O ambiente escolar também deve ser aquele que promove a valorização das inteligências múltiplas e a mobilização de diferentes saberes. A escola deve ainda prezar pela formação de estudantes para que, independente da escolha da futura área de atuação, sejam profissionais engajados e que causem impacto nas vidas das pessoas por meio daquilo que fazem e produzem. 

A escola precisa ainda cultivar um contexto de identidade e pertencimento. Afinal, a Educação se faz com o outro e para o bem coletivo, com ações que se pautem pela inovação e tecnologias, mas com olhar social para a redução de defasagens e também das desigualdades. 

Que mensagem você deixa para os professores e professoras que superam desafios diários para empreender uma Educação Transformadora?

Profa. Juliana Santiago: Um ponto importante é refletir: o que estou fazendo, como estou fazendo, por que e para quem estou fazendo? A partir de então, é preciso reconhecer que podemos semear a esperança de que bons frutos podem ser colhidos no trabalho diário que realizamos com tanto cuidado e afinco, na implementação das nossas práticas pedagógicas.

Também precisamos enxergar na nossa escola a possibilidade de transformação. Somos corresponsáveis pela realidade que queremos construir!

E deixo também um convite para que não desistam da Educação! Precisamos angariar forças e unir esforços para a conquista de direitos e para mostrar a nossa força e a nossa voz! Enquanto professores e professoras, somos agentes de mudança!

Vocês não estão sozinhos. Nós não estamos sozinhos! Temos o apoio e voz por meio das ações do Instituto Significare, Bett Educar e Base2edu,  corealizadores do Prêmio Professor Transformador.

Para finalizar, gostaríamos que fizesse um convite aos educadores de todo o Brasil para que participem do Prêmio Professor Transformador 2021:

Profa. Juliana Santiago: Olá, colega professor! Aqui é Juliana Santiago, uma das embaixadoras do Prêmio Professor Transformador. Você já pensou em divulgar o seu projeto para inspirar outros professores? O Prêmio Professor Transformador busca reconhecer projetos e professores que estão transformando a Educação em todos os níveis, compreendendo os níveis Infantil, Fundamental anos iniciais, Fundamental anos finais e Ensino Médio, de todo o país. São considerados para o Prêmio projetos implementados tanto em escolas públicas quanto trabalhos desenvolvidos em escolas privadas, que precisam atender a nove aspectos básicos descritos no regulamento. A participação é gratuita e as inscrições já estão abertas, podendo ser feitas até o dia 1 de dezembro de 2021 pelo site do Instituto Significare. Já estou ansiosa para conhecer, reconhecer os projetos e revelarmos os vencedores de cada categoria, pra gente inspirar cada vez mais pessoas nesse Brasilzão. Eu aguardo todos vocês, não perca essa oportunidade, hein?! Eu tenho certeza que você vai transformar muito a Educação do país! 

Link de Inscrição para a 2ª edição de Prêmio Professor Transformador https://significare.org.br/premio/

 

Conhecendo melhor a Profa. Juliana Santiago:

Graduada em Química pela Universidade Federal de Lavras (MG), a Profa. Juliana Santiago é Mestre em Agroquímica e Pós-Doutora em Ciências. A paixão pela Educação mostrou os primeiros sinais ainda na infância, quando Juliana chegava da escola e colocava os brinquedos em cima do sofá para dar aulas para eles ou, então, se reunia com primos e amigos para ler histórias e recitar poemas.

Na adolescência, Juliana ajudou a levar um curso de EJA (Educação de Jovens e Adultos) para a comunidade rural onde residia com os pais. No Ensino Médio, auxiliava os colegas com dificuldades e essas experiências foram fundamentais para identificar que a Educação Básica era o seu lugar. 

Na prática docente desde dezembro de 2015, a Profa. Juliana Santiago recebeu diferentes reconhecimentos ao longo da carreira: foi finalista do Prêmio Educador Nota Dez, em 2018; condecorada com o Selo Professor Transformador 2020; e também se tornou embaixadora do Prêmio Professor Transformador. 

A educadora se destaca ainda pela participação em projetos diversos. Juliana é fundadora do Projeto Química Conecta, reconhecido no evento Educa Week 2020 (2º lugar, categoria escola pública); e do projeto Consciência Conecta, parceria entre a ONG Gaia+ e o Núcleo Asas de Limeira (SP). É também embaixadora do projeto Fique Bem, uma iniciativa da ONG Gaia+ voltada para o professor, pelo professor e com o professor. É ainda integrante do Geração Futura Educadores e responsável pelo planejamento e gravação de 40 aulas de Química do canal Futura (Fundação Roberto Marinho), no projeto #nem1pratrás.

Para a Profa. Juliana Santiago, todos os caminhos são importantes e potentes, pois vão agregando ao próprio repertório e tornam as pessoas únicas. Reformulando a frase de Sócrates, a educadora afirma: “Quanto mais sei que sei, menos sei que sei. Quanto mais sei sobre algo, mais sou uma pessoa e profissional com individualidades e conhecimentos que nos diferenciam uns dos outros. E como é bom aprender isso”.