Sem tristezas constantes, sem cortes, sem mortes precoces, entender para compreender-se

Por que falar sobre suicídio na escola? Na idade escolar, a percepção do suicídio como forma de findar o sofrimento pode estar atrelada a outras adversidades enfrentadas pelo jovem, seja dentro, seja fora da escola. Questões como bullying e cyberbullying, depressão, relações familiares conturbadas, entre outras, podem estar na raiz do problema.

No Brasil, a faixa etária mais preocupante engloba jovens entre 15 e 25 anos, por isso sugere-se que a prevenção comece ainda na infância. Nesse sentido, a escola tem uma significativa parcela de responsabilidade nesse processo e projetos pedagógicos podem nos ajudar a falar sobre esse assunto tão delicado, mas profundamente necessário de ser tratado. Diversos clássicos da literatura já abordaram o tema, nos quais podem nos ajudar a conscientizar os alunos.

Sob esta perspectiva, a professora Alessandra Aparecida Neves idealizou o projeto “Sem tristezas constantes, sem cortes, sem mortes precoces, entender para compreender-se” com o intuito de utilizar a interpretação textual e leitura acerca do tema depressão e suicídio para conscientizar os alunos da EE Presidente Tancredo Neves, em Dourados (MS).

Para conhecer o projeto da professora Alessandra Aparecida Neves na íntegra acesse aqui 

A ideia do projeto surgiu a partir de uma conversa com os alunos do 7º ano, em que o jogo da Baleia Azul estava entre um dos assuntos na mídia naquele momento. Aproveitando que um dos alunos havia questionado a professora, todos começaram a falar o que sabiam a respeito e, durante o diálogo, a turma apontou uma das causas de muitos jovens estarem participando do jogo: a depressão.

A professora conta que, para sua surpresa, muitos pré-adolescentes ali estavam com depressão, tinham amigos e parentes depressivos. Inclusive, alguns conviviam com jovens que se cortavam, entre a turma mesmo, e identificou alunos que já pensaram em se cortar ou até mesmo alguns que tinham leves cortes nos braços. Sobre a iniciativa, a professora comenta: “Diante de tudo que foi mencionado, me veio a mente a ideia de desenvolver um projeto com a turma que envolvesse o tema depressão, suicídio e o jogo baleia azul. Mas que esse tema fosse permeado dentro de textos diversos, inclusive textos clássicos.”

Sendo assim, os alunos entraram em contato através de leituras, pesquisas, interpretação e compreensão de textos de gêneros variados dos temas depressão e suicídio. Os gêneros permearam entre romance, música, filme, peça teatral e hipertextos. Foi uma viagem entre os séculos, pois leram Romeu e Julieta (peça teatral); Amor de Perdição (romance); Inocência (o filme); Bring me to life (música); pesquisaram sobre depressão, suicídio e o jogo Baleia Azul.

Todos os textos propostos trouxeram a temática da tristeza excessiva, a morte precoce através do suicídio ou causada por uma grande ausência de alguém querido ou algo perdido pelos personagens. O projeto entra em consonância com as competências 8 e 9 da BNCC, em que autoconhecimento e autocuidado foram desenvolvidos em grande parte do projeto, bem como a empatia e a cooperação.

A iniciativa também permitiu que os alunos trabalhassem em equipe, “durante o projeto, todas as competências e habilidades individuais foram valorizadas. Além disso, o trabalho em equipe proporcionou que um aluno auxiliasse o outro, o que proporcionou que todos participassem de todas as atividades propostas.”

Todos os alunos adquiriram mais informações sobre a depressão, a respeito de algumas causas do suicídio, aprenderam sobre consequências do Jogo Baleia Azul e de outros jogos on-line, até mesmo o risco de conhecerem pessoas por meio de redes sociais. Estes alunos conseguiram entender um pouco de si mesmos, conseguiram discernir uma tristeza momentânea de um processo de tristeza que é a depressão, que, por algumas vezes levam ao suicídio. Alguns deles não tiveram mais vontade de se cortar, e até conseguiram auxiliar alguém próximo que estava passando por isso. Ademais, obtiveram conhecimentos de obras clássicas, inseriram estas obras no momento atual, bem como assimilaram de alguma maneira o momento que os escritores escreveram-nas.

Na escola existe um programa que funciona no noturno chamado AJA, em que há uma psicóloga. A professora conta que esta profissional sempre se colocou à disposição para auxiliar nas outras fases educacionais da escola. Lembrando-se disso, a professora procurou a psicóloga Aline e perguntou se ela poderia fazer uma mesa redonda com a turma, logo após ela aceitou o convite para fazer a mesa redonda, o que foi ótimo para os alunos.

Por fim, a professora ainda comenta “fiquei satisfeita não só com a última etapa, fiquei feliz com todo o processo, com cada parte eu observava que os alunos se envolviam de alguma maneira, pelo menos a maioria. E o que mais me fez ficar gratificada com o trabalho, foi que após a mesa redonda com a psicóloga, muitos alunos da turma procuraram-na, pois se descobriram com alguns sintomas colocados pela profissional durante o diálogo. E outros jovens procuraram a mim pedindo ajuda, esses foram encaminhados para tratamento.”

Confira aqui o vídeo sobre o projeto

Esta incrível iniciativa está disponível no Banco de Práticas do Instituto Significare  e foi selecionada entre os 350 projetos mais Transformadores do Brasil pelo Prêmio Professor Transformador. Inspire-se nessa iniciativa e participe da 2ª edição do Prêmio!

Acesse https://significare.org.br/premio/ e inscreva o seu projeto.

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