Jogos e brincadeiras indígenas: projeto pedagógico expande o repertório cultural e promove diversidade nas aulas de Educação Física

A população indígena é vítima de um apagamento histórico dos seus valores culturais, da violência contra seus povos e da dificuldade de acesso aos seus direitos, assegurados por lei. Diante deste fato,  é papel da escola problematizar e desnaturalizar esta situação, no sentido de promover maior valorização da diversidade racial e cultural, em particular dos povos indígenas.

A partir dessa reflexão e levando em consideração a lei n° 11.645, de 10 de março de 2008, que torna obrigatório no currículo escolar o ensino da história e das culturas dos diferentes povos indígenas, o projeto “Oryai: Jogos e brincadeiras indígenas”, desenvolvido pelo professor Douglas Geraldo Vasconcelos, busca resgatar as contribuições indígenas na formação da sociedade nacional e desmistificar a imagem estereotipada do indígena, promovendo valorização e respeito à diversidade aos alunos da Escola Municipal Gercy Benevenuto, em Ipatinga (MG).

Para conhecer o projeto do professor Douglas Geraldo Vasconcelos na íntegra acesse aqui

A ideia do projeto surgiu quando o professor Douglas participou como espectador do 1° Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, realizado na cidade de Palmas (TO), que tinha o objetivo de reunir atletas representantes de povos indígenas de aproximadamente 24 países. Desde então, o professor pensou em desenvolver uma proposta semelhante na escola em que o projeto surgiu na tentativa de resgatar a cultura indígena e estimular a valorização da cultura nativa nas aulas de Educação Física.

Se tratando de crianças, a melhor maneira de promover este conhecimento é através do esporte, dos jogos e das brincadeiras que contribuem para o contato com um universo de valores e significados desconhecidos por muitos. A palavra Oryai significa Brincadeiras no léxico Guarani, dialeto Mbyá, o que justifica o nome do projeto. Assim, brincadeiras, jogos e brinquedos indígenas foram ensinados, tais como: cabo de força, heine kuputisú (corrida de um pé só), tolói cunhungu (espécie de coelhinho-sai-da-toca), arranca mandioca, o sol e a lua, kolidihõ (semelhante a bocha), corrida de tora, briga de galo, jogo da onça, cama-de-gato, hori-hori (zunidor) e currupio.

A iniciativa foi desenvolvida com toda a comunidade escolar e se estabeleceu através de 4 etapas: pesquisa aprofundada, planejamento, execução das atividades e avaliação. Primeiro, realizou-se a pesquisa aprofundada sobre os jogos, as brincadeiras e os brinquedos indígenas, utilizando sites, revistas e livros como fontes de pesquisa. A partir deste estudo sistematizado, foi feito o planejamento semanal do projeto com as atividades, culminando com os Jogos Indígenas do Taúbas, envolvendo toda a comunidade escolar e outras duas escolas, também da zona rural de Ipatinga. Dentre todas as atividades ensinadas, foram selecionadas seis para composição dos jogos. Vale ressaltar que nos Jogos Indígenas não há premiação, uma vez que a proposta tem caráter cooperativo e não competitivo.

Em seguida, iniciou-se a execução das atividades, que ocorreu com alunos do 1º ao 5º ano, no intuito de investigar o conhecimento prévio a respeito da cultura nativa. Em rodas de conversa, os alunos respondiam questionamentos, tais como: “Já viram algum índio pessoalmente?”, “Já visitaram alguma aldeia indígena?”, “Sabem onde vivem os índios do Brasil?”. Após essa investigação, foi explicado aos alunos que as aulas de Educação Física, a partir de então, teriam como tema os jogos e as brincadeiras indígenas e que todas as aulas iniciariam com um mito, história ou vídeo indígena. Depois, aconteciam os jogos, as brincadeiras ou a confecção de algum brinquedo, finalizando a aula com alguma música indígena.

Acreditando ser uma oportunidade de interagir com as vivências culturais indígenas, a turma recebeu a visita da aldeia Gerú Tucunã, etnia Pataxó, da cidade de Felicina (MG), em que fizeram um momento cultural aberto à comunidade, onde todos os presentes interagiram, cantaram e dançaram com os indígenas.

Quanto à etapa de avaliação, os instrumentos avaliativos utilizados foram entrevistas, observações e rodas de conversa. Sobre esta etapa, o professor Douglas conta que o contato com a aldeia indígena e as ações desenvolvidas no projeto tiveram o potencial de contribuir para uma aprendizagem significativa, em que a comunidade escolar não está apenas aprendendo “sobre” o tema, mas sim aprendendo “com” as vivências indígenas: “observou-se que, com a vivência das atividades, houve o surgimento de um novo olhar sobre o indígena, um olhar mais humano e mais respeitoso, que esta proposta os aproximou, por propiciar o aprendizado de atividades lúdicas, de tradições e uma afirmação de identidade cultural, corroborando a ideia de que os jogos, as brincadeiras e os brinquedos são importantes ferramentas na transmissão de conhecimentos e saberes.”

Dessa forma, as aulas de Educação Física se configuraram como um ambiente propício para a reflexão acerca das diferenças existentes entre os indivíduos e, além disso, as situações emergidas durante o desenvolvimento das atividades serviram como oportunidade para a melhoria da convivência entre os educandos e comunidade escolar como um todo, contribuindo para a sua formação integral e promovendo a criticidade sobre os valores sociais.

Por fim, o professor Douglas ainda comenta: “Quando desenvolvemos atividades de combate ao racismo, valorizando a diversidade e a inclusão na escola, estamos evitando com que a criança cresça com sentimentos que serão prejudiciais, a si e ao outro. Desmistificar essa diferença através dos jogos e brincadeiras indígenas elimina barreiras e prepara o aluno para a construção de relacionamentos saudáveis, valorizando as diferenças e desenvolvendo o conceito de empatia e igualdade.”

Esta incrível iniciativa está disponível no Banco de Práticas do Instituto Significare  e foi selecionada entre os 350 projetos mais Transformadores do Brasil pelo Prêmio Professor Transformador. Inspire-se nessa iniciativa e participe da 2ª edição do Prêmio!  Acesse https://significare.org.br/premio/ e inscreva o seu projeto.

* Por medida de segurança de dados, para acessar os projetos do Banco de Práticas é necessário efetuar cadastro. O processo é rápido e a medida preserva as informações dos autores dos projetos.