Educação Física para além do campo da visão: projeto promove inclusão para portadores de deficiência visual nas aulas de educação física

A Paraolimpíada é um evento realizado logo após as Olimpíadas, do qual participam somente atletas com deficiências. Este ano, as paraolimpíadas de Tokyo ocorrerão entre 24 de agosto e 5 de setembro.

No geral, a iniciação esportiva e o sonho em se tornar atleta  acontece na escola durante as aulas de educação física. Pouco a pouco, a educação física escolar está evoluindo para uma visão inclusiva, que pressupõe o convívio e a participação de todos os estudantes nas mesmas atividades.

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, documento elaborado pela ONU, e que tem valor de emenda constitucional no Brasil, propõe assegurar que crianças com deficiência possam, em igualdade de condições com as demais crianças, participar de jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, inclusive no sistema escolar.

O problema é que nem sempre isso é possível, já que entre as dificuldades da educação física adaptada e inclusiva, está a falta de estrutura adequada da escola, falta de materiais, recursos e equipamentos adaptados aos alunos com deficiência, a falta de formação adequada de professores à diversidade dos alunos, entre outras.

Pensando nisso, o professor Jairson Monteiro Rodrigues Viana idealizou o projeto “Educação física escolar: para além do campo de visão” em que a turma do ensino médio realizou jogos esportivos com os olhos vendados para promover práticas de inclusão e acessibilidade aos alunos portadores de deficiência visual, além de proporcionar a participação de todos os alunos do IFPA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará) Campus Tucuruí, em Abaetetuba (PA).

Para conhecer o projeto do professor Jairson Monteiro Rodrigues Viana na íntegra acesse aqui

A iniciativa surgiu em busca de incluir um aluno deficiente visual nas práticas esportivas, tanto na teoria quanto na prática. Inicialmente, através de um estudo diagnóstico, se buscou saber o grau de cegueira, se a cegueira era adquirida ou congênita e quais os conhecimentos prévios sobre o conteúdo esporte, em específico Futsal, handebol e voleibol. O estudo diagnóstico também foi realizado com os demais alunos, para saber o grau de conhecimento sobre as modalidades esportivas a serem desenvolvidas no trimestre. Ou seja, foi traçado o perfil de cada aluno e suas reais necessidades.

Durante a aplicação do projeto, notou-se que muito daquilo aprendido sobre esportes é baseado no aspecto visual da localização desses elementos. Por isso, o projeto utilizou maquetes táteis de quadras esportivas (voleibol, futebol de salão, futebol de campo, handebol e basquetebol) para facilitar o acesso do aluno Deficiente Visual. A confecção destes desenhos utilizava texturas bem diferenciadas para enfatizar partes distintas da quadra (linhas e áreas), objetivando facilitar a exploração tátil por parte dos deficientes visuais. Segundo o professor Jairson, “o primeiro desenho tátil construído e disponibilizado ao aluno DV, foi o de Futsal. E, foi gratificante ver a alegria da descoberta do aluno, por estar compreendendo/aprendendo sobre este esporte, que até então, sabia apenas, que existia na forma retangular, os cantos e o gol (…) o ensino de Educação Física escolar se tornou mais inclusivo quando usei desenhos em relevo com informações em Braille e descrição verbal auxiliando o DV na exploração dos desenhos táteis”.

Os demais alunos da turma exploraram os desenhos táteis realizando um jogo de futsal, estando todos com os olhos vendados. As aulas foram alternadas pelo uso de esporte adaptado ou não, mas sempre com a participação de todos.

Uma das dificuldades enfrentadas pelo professor Jairson Monteiro, foi a difícil aquisição do papel microcapsulado para a impressão dos desenhos táteis, pois trata-se de um papel muito caro. Para superar esta dificuldade, ele passou a usar materiais alternativos para a confecção dos desenhos táteis (como papel de diferentes texturas, barbante, sementes e miçangas, por exemplo).

Os alunos tiveram uma participação ativa na aprendizagem tendo sempre diálogo, debate, reflexão, cooperação, socialização e inclusão. Nessa perspectiva, os objetivos foram alcançados, pois os alunos compreenderam a proposta do projeto e também o seu contexto, exercendo o protagonismo juvenil, ressignificando a si próprios e encontrando caminhos para superar as “barreiras”, indo além do campo de visão.

O projeto buscou incentivar e concretizar uma cultura inclusiva, buscando assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, sem exclusão (ODS 4 em seu objetivo 4) em uma perspectiva democrática e de respeito à diversidade (BNCC – Competência 05).

Neste aspecto, a Educação física inclusiva tem como objetivo o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor não só dos estudantes com deficiência, mas de todos os estudantes, onde o convívio é um fator fundamental para que esse objetivo seja atingido. O esporte é um movimento que une, educa, transforma e forma seres humanos. O atleta profissional aprende desde cedo a ter condutas como a persistência, colaboração, limite, espírito de equipe e dedicação.

“Com certeza, os professores que desenvolverem esta prática em sua escola estarão proporcionando o acesso de todos ao saber esportivo, assim como desmistificar a ideia de que a educação física escolar é apenas “rolar a bola”. E, estarão contribuindo para uma aprendizagem que prima pelo protagonismo do aluno, equidade de acesso ao saber, ações de intervenção na realidade e inclusão”, finaliza o professor Jairson.

Esta incrível iniciativa está disponível no Banco de Práticas do Instituto Significare  e foi selecionada entre os 350 projetos mais Transformadores do Brasil pelo Prêmio Professor Transformador. Inspire-se nessa iniciativa e participe da 2ª edição do Prêmio!  Acesse https://significare.org.br/premio/ e inscreva o seu projeto.

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